Meu velho, quanta saudade!

Entardecia,

suavemente como o Criador

planejara para os dias de paz.

Nossa paz.

Teu jornal,

eufemismos e risadas,

cerâmica embaçada,

céus arranhados pela

estupidez humana,

os pássaros e seus encantos,

tuas mãos envelhecidas,

tua voz envelhecida

e um olhar de quem ainda

pretendia ser menino.

Somos um do outro.

Pernas passam,

festas passam,

passa a hora

e a vida na

cabeceira que

testemunha a validade das sementes.

Somos um do outro...

Olhar de agora,

não estás aqui hoje,

sem café e piadas à tardinha,

sem carões e abraços em fins de noite,

sem a mínima condição

de sustentar lágrimas e ecos

de dor que sufocam

o tremor dos lábios.

Éramos um do outro, pai,

mas esta terra há de entardecer novamente

e nossos abraços retomarão o calor de outrora.

Como me ensinaste:

Anjos de branco nos levarão à presença do Senhor!

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 09/04/2016
Código do texto: T5600035
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