Meu velho, quanta saudade!
Entardecia,
suavemente como o Criador
planejara para os dias de paz.
Nossa paz.
Teu jornal,
eufemismos e risadas,
cerâmica embaçada,
céus arranhados pela
estupidez humana,
os pássaros e seus encantos,
tuas mãos envelhecidas,
tua voz envelhecida
e um olhar de quem ainda
pretendia ser menino.
Somos um do outro.
Pernas passam,
festas passam,
passa a hora
e a vida na
cabeceira que
testemunha a validade das sementes.
Somos um do outro...
Olhar de agora,
não estás aqui hoje,
sem café e piadas à tardinha,
sem carões e abraços em fins de noite,
sem a mínima condição
de sustentar lágrimas e ecos
de dor que sufocam
o tremor dos lábios.
Éramos um do outro, pai,
mas esta terra há de entardecer novamente
e nossos abraços retomarão o calor de outrora.
Como me ensinaste:
Anjos de branco nos levarão à presença do Senhor!