DOCE POEMA
DOCE POEMA
Mimosas glicínias
De olhos tão azuis,
Que a Santa Maria Madalena
Lá no altar ficava tão cheia de pena
Por seus olhos não serem os teus.
Ao centro do adro a camélia vergava
Ao peso de tão vermelha cor,
E o som de mil abelhas em cada flor
Ecoava dentro da velha igreja,
Como se fora estranha reza.
Deliciosos eram os frutos nacarados
Duma intemporal nespereira,
Mais doces que o mel da urzeira;
E por tão altos, mais desejados,
Pela malta miúda, inteira.
E por entre murtas no passal,
Um anjo disfarçado de mulher
Ficava por ali a semear
Sorrisos roubados ao sol,
E mil promessas proibidas no olhar.
Ah, velho adro da minha infância,
Como é bom te recordar!
Não há tempo nem distância,
Que possa da minha lembrança apagar
Tão belo tão doce poema.
Eduardo de Almeida Farias
16/1/2006