Volta o tempo
Em que seus olhos 
eram meus olhos

Volta o tempo
Em que seu caminho 
era meu caminho.

E depois com a luz
Alguém se transformou em sombra
E outro era o corpo sob a luz

E o vento apartou tudo.
Separou as folhas
as falas e
as razões.

Fez-se silêncio
lacônico.

Havia um tácito acordo
de tédio mortal.

Bebíamos veneno
lentamente
matando o que existia.
Purgava-se dor e melancolia.

Tua mão ergueu-se para mim
Não num gesto de carinho 
mas em agressão.

De parceira virei inimiga.
De vizinha virei algoz
E o grito de dor
fez um mantra catastrófico.
Destruiu a lógica de tudo.

Depois da hecatombe dos anos.
Depois das pedras limadas por muitas 
chuvas ou lágrimas.
Procuras agora o que sobrou?

Vestígios virtuais.
Visito o teor de
cartas e e-mails de gratidão
falsa e rendida.

Palavras ocas de 
verbos débeis.

Procuras o inconsciente
Que dorme
no mais profundo íntimo.

Procuras a piedade.
A misericórdia
Como um mendigo 
a rogar por atenção...

Meus olhos míopes são meus
e da falta de visão que 
vem me assaltar com os anos.

Meus passos são de caminhos
que refiz
na empreitada de atravessar
desertos.

Minha luz não projeta sombras
E descobre corpos renovados
na descoberta diária
da vida.


 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/03/2016
Reeditado em 09/03/2016
Código do texto: T5568859
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