Das Árvores
Da primeira lembrança que ainda tenho
São das árvores impolutas e puras
Dos meus dias de pequena criança.
Sempre nuas todas as árvores.
Aquele pé de jequitibá gigante,
A Grande Árvore era o seu nome,
Ainda é majestosa e soberana.
Possuía um certo jeito diferente de olhar às outras árvores.
Até hoje nunca saberei e até agora nada compreendi,
Um raio sobre seu corpo correu
O jequitibá não chorou mas permaneceu.
O susto foi coletivo e suas lascas foram quardadas.
Existia um pé-de-não-sei-o-quê
Que indicava ser ali o limite para nós crianças
Ele vivia tão longe mas estava perto de mim
Junto do sol e do nascer do dia
Era tão velho desde a primeira vez que o vi
E tão novo quanto minhas idades e todas as chuvas.
Não sei, nem mesmo o porquê de muitas vezes
Desejar ser ao menos como ele.
Amendoeira magricela, sentinela solitária
Trazíamos-lhe tantas alegrias nas correrias e brincadeiras
Que acreditávamos que sempre seria assim
Que nunca envelheceríamos, que nunca haveria fim.
Mas também trazíamos-lhe nossas tristezas
Quando pela primeira vez ali chegávamos.
No final do segundo pavilhão
Duas árvores irmãs, dois irmãos cajazeiros mirins eram gigantes
Até hoje insistem em esconderem-se
Dos olhos de quem vai ao longe
Eram altos adoçados por pontos amarelos.
Os saputis se perdiam de nossos olhos.
Um coqueiro tombou ,morreu e
Deixou seu irmão e se foi.
Guardei a longa folha do finado
Mas meu coração pequeno.
Numa tela de pintura esverdeada
Havia um tamarindeiro robusto cheio de sussurros
Sempre segredava ao saputizeiro
Que andava ao longe de minhas costas.
Até hoje não sei o nome delas, todas perfiladas brincavam com meus olhos
Lado a lado sempre estavam, floresciam juntas animadas
Troncos plumbeados no chão duro de folhas secas
Os seus frutos abriam-se brancos e os algodões voavam mansos
Mas eram as flores rosas, lindas cores rosas
Que de junho à junho mudavam a cor da estrada.
De ano após ano encantávamos-nos com àquela aquarela
Matizando-nos a visão nas manhãs de frio.
Mas ainda havia outros encantos nas tardes de verão
Um ipê amarelo, lindo amarelo
Que se punha a frente do sol vermelho.
Naquele triângulo de ruas cercadas por árvores
Estas perdiam suas cabeças num estranho fenômeno na neblina espessa
Decepadas flutuavam estagnadas desafiando o meu entendimento
Os jenipapos sempre que podiam fugiam e vinham morar comigo
O que faria sem as árvores naqueles meus dias
Dias de árvores de criança.