Saudade vestida de flores

Na beira da estrada há um poste de betão rodeado por flores,

Flores não nascem em betão,

E nem aos postes oferece-se flores.

O que se passa?

Uma pergunta que toma-me a mente quando por ali passo.

Flores bem arranjadas,

Flores de vários tipos e cores,

Flores ali depositadas por quem ama,

Flores atadas ao poste como que para não fugirem,

Flores da saudade.

Saudade, por que vestires-te de flores?

Um vaso com flores sobre uma mesa revela o vazio é a ausência.

Flores na beira da estrada atada a betão revela alguém que dali não passou e deixou a saudade.

Saudade, por que te vestes de flores?

Será uma tentativa de esconder teu lado feio?

Tentam convencer-me que esta pérola da língua portuguesa é toda bondade, pois só sentimos saudades de quem se ama.

Mas eu que amo já conheci o lado feio da saudade.

Fica bem ali, na ausência de quem partiu e não volta mais.

Saudade, vestir-se somente de flores é pura maldade.

Será por isto que mesmo a contra-gosto cravam entre as flores uma cruz que revela o Cristo e seu suplício?

Na beira da estrada há um poste de betão rodeado por flores,

Quando por ele passo não vejo mais o poste de betão e nem as flores que ali estão.

O que vejo é saudade!

Saudade vestida de flores numa tentativa inútil de apaziguar um sentimento que sabe a fel na boca daqueles que seguem pela estrada.

Leia mais em http://verdadenapratica.wordpress.com