Vagas lembranças da infância
Tornei-me gente grande e pensante
Ouvindo a jaçanã
Saracura popularmente chamada por meu avo
Finado avo que Deus o tenha
Alias, se o tiver deve estar bem mal humorado
Carrancudo era ele, chegou ali e parou
Meu pai o puxou, maneira de dizer
Que carregou a genética
Nossa gente assim o fala
Revisitando esta era que nesse dia estou
Ouvindo a chuva lá fora findando meu fevereiro
Que março ainda não raiou
Ouço de novo a jaçanã
Saracura cantando, na várzea lá embaixo
Parece que ouço de novo meu avo
“Saracura não é Deus, se fosse o sapo choveria”
Pelo visto se enganou
Pois a chuva não dá trégua e castiga minhas férias
Apesar de que mal começou
Nesse dia de descanso, revivendo a infância
O tempo não passou e não passa
A gente é que espicha sua linha
Apesar de não querer que ela se mova
Insensível e inflexível não corresponde
E insiste como a chuva lá fora
E a erosão rompante
Leva minhas horas derradeiras de folia
De produto da infância
Que não o faço apenas na memória
Dançam, pulam as ...
Bolinhas de gude, peteca, gu ingo-o-raia
Jogo de bola, betis, nadar no rio,
Banho de cachoeira, pesca de peneira
Escorregar no barranco, ou simplesmente correr
Trepar nas arvores, espantar as galinhas de angola
Brincar com os cachorros, montar nos bezerros
Caçar vaga lumes nas noites escuras
Teatralizar como nos circos e cantar
Como era bom e os dias eram curtos
Pra tanto brincar, a noite chegava rápido e era longa demais,
Como as missas dominicais
Hoje o contrario os dias são longos e as noites são curtas
É a vida da saracura e minha ela na sua várgea
Eu na casa tentando a memória
Permitindo a passagem da lembrança que me cura
Da pressa da existência
Que este apontamento não deixe passar
Como a vida que passa a passos longos e ligeiros
E brevemente me leva que nem quero pensar.