VELHA INFÂNCIA
Tenho pés descalços,
Como de outros meninos,
Lavando-se na água
Que corre ligeira da serra.
Os gritos costurando o vento,
Os risos soltos como os sonhos bons.
As mãos colhendo pitangas.
Os olhos catapultando-se nas luzes
Que se esverdeiam nos buritis.
E a gente já aprendeu, desde cedo,
A brigar com o galopar do tempo
Laçando, sem juízo, o sol poente,
Porque temos medo de crescer.
De tudo que a vida nos dá,
E que evitamos, é o outono
Crescendo dentro de nós.
De tudo que a vida nos dá,
E queremos reter, é a primavera
Se enlaçando em nossas pernas.
Quero ser eterna criança,
Com gosto de frutas na boca,
Exalando cheiro de mato.