Platão Pinheiro
Dizem que quem vai
para longe do país, dos pais
dos amigos,
dos amores,
toca da depressão,
padece da solidão,
resguarda-se ao desabrigo.
Mas se vivo aqui só de ais
e, ao alcance dos demais,
não consigo ver ninguém mais
que não o haver só comigo,
de mim tão inimigo,
primavera sem flores;
e toco da depressão,
padeço de solidão
em país com que só brigo?
A dor do exílio, quem voltava descobria,
nada mais é que uma grande saudade feiticeira
do que não tinha mais porque não mais existiria.
E, no mundo, em qualquer lugar,
cantam aves e o Sabiá
nunca gorjeou na Palmeira.
Por isso, se a ilusão me faz feitiço,
se me quebra em cativeiro
e se apossa do me que possa
ser só vontade e não saudade por inteiro,
liberto-me insubmisso,
caminho no mesmo bosque estrangeiro
e abraço tudo o que mais não sentia,
mas tanta falta fazia,
num mesmo Pinheiro.