Sândalo e mel
Posso versar sobre tudo, a pedra em que os pés tropeçaram
Pedra que serviu de construção, cristal que o tempo lapidou
Unida ao cimento se fez calçada, e escadas que se galgaram
Pedra feita de palavras, e que tantas vezes o poeta versou
O céu azul, e raro, na primavera passada, no verão de agora
De brigadeiro, que se funde ao mar, que borda estrelas belas
Céu que desliza pássaros, aviões, que o homem tanto namora
Que rima com caravelas, janela ao sol, flor amarela, aquarela
O vento que vem calmo, ou varrendo vem forte, e sem rumo
Despetalando as flores, arrancando folhas, destelhando casas
Vento suave, fresca brisa na tarde de janeiro, acariciando asas
E a pele que se mostra por entre tecido, tão fino, eis o resumo
Mas tudo é nada, até o verso fica sem graça, e a palavra pesa
Se você não estiver presente, se vens, é diamante, és sol e céu
E tudo tem graça, é vida revestida de poesia, alimento na mesa
Tem calor e frescor, tem perfume de sândalo e sabor doce de mel.