MINHA GENTE
Esqueci minha gente
no fundo de um velho baú
e, com isso, perdi o rumo
e o senso.
Esqueci até meu nome
e me rendi
ao primeiro grito de quimera.
Bebi vinho de má qualidade,
fumei cigarros de estranha procedência,
li poemas vazios
como o estômago do mendigo,
que me revelou o segredo
da suprema felicidade.
Esqueci minha gente
e a minha vida ganhou
cores de holocausto.
No quarto que me deram,
preguei, nas paredes sujas,
fotos velhas
de antigas musas nacionais.
Por que fiz isso?
Em minha cegueira e amnésia,
cantei meu amor
por coisas fúteis
e nunca chorei tanto.
As lágrimas
lavaram meus olhos.
Lembrei do baú
e as velhas fotografias
mostraram que eu vivera
dias azuis.