Lavadeiras
E o sol
Queimante,
Esturricante,
Aquecendo as pedras.
Imenso bloco
Alvo,
Disforme,
Estendido
Às margens do rio.
Ao ar livre,
Ao relento,
Ao vento...
E lá,
O canto triste
Entoada
Por lavadeiras,
Que a roupa quaram
E coram a cara.
Batem,
Rebatem,
Sacodem,
Estendem...
Num ritual frenético,
Com ritmo musical,
Orquestral...
Naquela enseada
Nada ensaiado,
Um hino puro
De sonhos calados,
Abafados...
O suor que pinga,
Se mistura à espuma,
Brinquedo da criança.
Tudo se reflete
Num multicolorido.
No ar,
Bolhas de sabão
Levitam.
E, por um instante,
Embelezam
E alegram.
Tão redondas,
Lindas,
Leves,
Grandes,
Pequenas...
Que se vão
Apagadas pelo vento
Tais quais esperanças
Que não se alcançam.
O cheiro de roupa
Limpa,
Seca,
Sacudida,
Entrouxada,
Sobre uma cabeça,
Descabelada.
Criança
Buchuda,
Brincada,
Banhada,
Secada ao vento,
Escanchada.
Filhos crescidos,
Crescendo,
Nascendo,
Morrendo.
É a vida
Delas,
Lavadeiras.
Que lavam
A alma já branca.
Que levam a vida
Mesclada
De vontades,
Sonhos distantes
E,esperam o amanhã
Que demora,
Seguem
Lavando,
Lavando,
Lavando...