Lavadeiras

E o sol

Queimante,

Esturricante,

Aquecendo as pedras.

Imenso bloco

Alvo,

Disforme,

Estendido

Às margens do rio.

Ao ar livre,

Ao relento,

Ao vento...

E lá,

O canto triste

Entoada

Por lavadeiras,

Que a roupa quaram

E coram a cara.

Batem,

Rebatem,

Sacodem,

Estendem...

Num ritual frenético,

Com ritmo musical,

Orquestral...

Naquela enseada

Nada ensaiado,

Um hino puro

De sonhos calados,

Abafados...

O suor que pinga,

Se mistura à espuma,

Brinquedo da criança.

Tudo se reflete

Num multicolorido.

No ar,

Bolhas de sabão

Levitam.

E, por um instante,

Embelezam

E alegram.

Tão redondas,

Lindas,

Leves,

Grandes,

Pequenas...

Que se vão

Apagadas pelo vento

Tais quais esperanças

Que não se alcançam.

O cheiro de roupa

Limpa,

Seca,

Sacudida,

Entrouxada,

Sobre uma cabeça,

Descabelada.

Criança

Buchuda,

Brincada,

Banhada,

Secada ao vento,

Escanchada.

Filhos crescidos,

Crescendo,

Nascendo,

Morrendo.

É a vida

Delas,

Lavadeiras.

Que lavam

A alma já branca.

Que levam a vida

Mesclada

De vontades,

Sonhos distantes

E,esperam o amanhã

Que demora,

Seguem

Lavando,

Lavando,

Lavando...

Maria Eunice Lacerda
Enviado por Maria Eunice Lacerda em 28/11/2015
Código do texto: T5464013
Classificação de conteúdo: seguro