Quente
Saudade nem sempre é algo frio.
Saudade pode ser quente,
Pulsante,
Palpitante.
Porque quando você partiu,
Deixou a luz acesa,
A lareira ardendo,
A chaleira fumegando
E meu coração...
Batendo.
Quando você partiu
Usou discursos ensaiados.
Deslocados,
Desprovidos de significado.
Perdeu-se em ambiguidade onipresente
E sua insensibilidade só não foi mais evidente
Que sua sensibilidade.
Saudade nem sempre é algo vazio.
Saudade pode ser cheia.
Meu coração agora é oco
Mas minha mente guarda tantas memórias
Que preciso despachar os baús
Na próxima Limpeza de Primavera
Saudade é algo quente
É brasa que arde louca
É a pele suando
Na ânsia de abraçar
Algo que a distância levou.
É palito de fósforo riscado
É chama que engole florestas
Saudade é algo quente.
A única coisa fria é meu coração
Que se congela aos pouquinhos
Por medo de queimar desenfreadamente
Até virar cinzas.