Um Sorvete e Um Abraço
Acho que preciso de sorvete e um abraço
Depois de enfrentar tantos medos
Escondidos em buracos e sob a neblina
Depois de ver tantas belezas fugazes
Que se tornam inalcançáveis após breves instantes
E depois de relembrar amizades perdidas
Levadas pelo mar azul em um dia de sol
Bonito demais para ser tão doloroso
Acho que preciso de um sorvete bem grande
E um abraço bem apertado
Depois de outro duelo contra o Universo
Depois de virar o mundo de cabeça para baixo
Chacoalhando-o desesperada por um novo destino
Por algo que me arranque da minha realidade letárgica
Preciso de um vento que me sopre para outro mar
Embora o teu mar seja o mais azul
Aquele que atrai cada pedaço da minha alma feita de água
Aquele em que as sereias cantam sem remorso, me chamando pra voltar
Preciso de uma nova canção
Ou esses versos tristes vão manchar meus lábios para sempre
Sua voz continua a me chamar
Motivada por aquele seu pedaço de alma que ainda não seguiu em frente
Seja como for, todo aquele resto que já seguiu
Podia ao menos parar de me torturar
Preciso de outros poetas e outras inspirações
Esquecer teus versos, como esqueceste tua musa
Por que, por que, meus deuses, tu tens outras musas
Se eu tenho ainda os mesmos versos?
Por que meu amor tem que ser tão puro e fiel
Em um mundo profanado e infiel?
Te esqueço ainda, qualquer dia desses
Quando estiver distraída com outros mares
Quando o medo desistir de bater na minha porta
Te esqueço ainda, quando meu coração amadurecer
Mas hoje está escuro, e ainda escuto os ecos dos meus medos
Cavando buracos e ocultando-se na neblina
Hoje meu mar ainda está salgado de lágrimas
E eu só quero um sorvete de morango imenso
E um abraço apertado que não venha de ti