uma poesia distraída
uma ausência sem desculpas, mas que merece presença
a presença de uma ausência consentida, ressentida
uma ausência esculpida de vazio
quebrando a continua presença da vida
aquilo que, naturalmente, não se admite, mas se permite no final
da eterna amizade fugidia se esquivando das convenções
mesmo que integralmente a culpa seja minha
estar presente ao seu sorriso tímido e acusador
essa ausência de palavras, das prosas, de versos
de bilhetes, dos dedos de prosa em conversa afora
como se impedindo o outonal das tardes
tens razão, quando me culpas de não ser banal, de não ser cotidiano
de não ter saudades do corriqueiro, da mesmice dos mesmos dias
cúmplices por essa saudade, saudades por sermos ausentes
talvez seja até mesmo aquela saudade de nós mesmos
das lembranças do que outrora fomos
dos nossos anseios do que no presente somos
do que seríamos em nossos sonhos em comum
nessa dinâmica, compartilhamos da saudade do ausente
o doce sabor da ausência de uma saudade carinhosa
o sabor da saudade com o teor da ausência
com a sua falta vestes a sua presença
de um tempo agora sem tempo
por todos os momentos que existimos juntos
quando ríamos de tudo e chorávamos por nada
dos muitos momentos, de ombro a ombro, solidários
quando ríamos por nada e chorávamos por tudo
da ilusão, dos nossos olhares maravilhados
pelo fascínio de ter vivido a ilusão de cada instante
essa saudade que a cada momento vivo em reviver
como num suplício impedimento do cair das folhas no outono
nessa querença desmedida de transpôr-se ao tempo
quando o vazio é maior que o silêncio das palavras
quando na ausência não te encontro e tropeço no nada
qualquer hora escrevo, descrevo essa saudade de você
num momento em que a saudade estiver ausente
deixarei de presente uma poesia distraída
~.~.~
https://youtu.be/cShFa0vt1Dc
MARIA BETHANIA " GENTE HUMILDE "
[Chico Buarque,Garoto e Vinícius de Moraes]
http://www.mariabethania.com/
http://interludioepoesias.blogspot.com.br/search?q=poesia+distra%C3%ADda