O CAIS DA SAUDADE

No pequeno flutuante de madeira
De onde um dia se despediu uma vida
E muitos partiram pra abraçar destinos

Distante alguém contemplou
O reluzir das luzes da cidade refletida
Sobre as águas calmas e noturnas
Até o momento em que o barco
Contornou o primeiro estirão de tristeza
Ascendendo em algum coração 
As primeiras faíscas da ausência



Nos olhos da mãe o choro pelo filho
Bênçãos e promessas aos santos 
Pela proteção de seu menino...

Despedidas, lágrimas que ferem,
A última palavra e o olhar tristonho

Quando a mãe com a voz embaçada
Ao abraçar o seu varão diz. 

“Eu sabia que um dia...
O mundo te roubaria de mim”

No dia seguinte...

Na mesa está faltando alguém

Ela olha o prato e a colher do filho
Nesse momento os olhos se aquecem

No mormaço do meio-dia 
A nuvem esconde o sol escaldante 
Mas não encobre o flagelo d’alma

Ah, flutuante que de ti partiram tantos 
Quantos hão de retornar?

Muitos jamais regressarão...

Essa é a lei natural da vida

Toda tardezinha a mãe caminha pela orla

Nos olhos, correntezas de saudade
Ela pede a Deus para que um dia 
Este rio traga seu filho de volta

Espera vê-lo desembarcar sorrindo
E neste mesmo flutuante...

Quer beijos e abraços apertados
Pra afogar aquela falta gritante

Juntos e felizes subirão as escadarias

Para depois de alguns minutos 
Ainda que cansada 

Ela possa dizer,

Agora sim! Finalmente em casa.

Entra meu filho.
    





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