Ontem à noite sonhei contigo

Eu sonhei contigo ontem à noite.

Na verdade, até me surpreendi por ainda pensar em ti

como num engano celeste, no inesperado sentir

numa chuva que cai indômita, eternamente doce.

No sonho, eu fiz uma coisa que não sei se deveria ter feito...

Talvez o seja, posto que ainda guardo no peito minha decisão

Essa letárgica decisão que às vezes me toma como uma prisão

Pena que seja algo que hoje, não possa ser desfeito.

Vi você partir, e na verdade deixei que fosse, deixei-te ir

como num enlevado amanhecer de verão

ou numa primavera repleta de solidão

deixei que fosse ir, deixei que você partisse.

Talvez eu nada pudesse fazer

Talvez hoje, eu agisse com mais avidez

de você, numa sôfrega languidez

Que não me permiti a ter

Contigo.

Realmente não sei.

Só sei que por algum motivo, eu sonhei com você,

e no sonho estranhamente, quis te beber...

como realmente nunca nem ao menos imaginei

Sempre soube porém, mesmo com essa clara indolência

que te amava!

Que deveras amava, e me alegrava

só em sentir o seu cheiro pairando no ar -- tola inocência.

Mas por prender-me a mim mesmo,

diante às circunstâncias,

nunca nem ao menos tentei ir acima das ânsias...

de ti; a dor me sucumbia -- prendi-me a mim mesmo

Deveria ter te contando o quão de fato sofria.

Não de amores românticos caídos por ti,

mas que realmente tinha fortes dores no corpo -- que me corroíam

também à minh'alma, e que por isso, eu não me deixava sentir

A mim e a você.

Disso eu sei, que muito me arrependo.

Mas para meu mais íntimo estranhamento,

à noite passada, sonhei que te beijava

que finalmente te tomava

sobre meus braços.

Coisas que hoje não mais lamento.

Não sei o motivo de sonhar -- será que ainda carrego o fardo

de ter-te deixado ir?... Sentimento.

Ontem à noite eu sonhei contigo...