Poesia para Sampa
Quis, em vão, me encontrar
Nas esquinas de tuas avenidas
E por não ser de ti filho nato
Não sei se me causaram profundo encanto
Ou, talvez, tamanho espanto
Os contrastes de tua paisagem urbana
De súbito, me questionei:
Como pode a arte persistir
Em meio ao concreto de tuas estranhas?
Surgiram, então, as primeiras impressões
Das paredes dos muros de seus prédios erguidos
Manchas de tinta, palavras escritas
Pelos dedos de teus filhos
Estão tatuadas em teu seio
Algumas, com tal veemência
Enfatizam a opressão de seu povo
Criticam a corrupção, denunciam a violência
Trazendo à tona a podridão do governo
Falavam-me, São Paulo, de tuas vergonhas
Mas em teus muros de tudo impressionado eu lia
Desde poemas de amor às coisas mais banais da vida
Foi assim que comecei a perceber
Que em ti há arte por toda a parte
Quer nas esquinas de tuas avenidas
Quer nos morros de tuas favelas
Onde o povo humilde, sem opção, se aglomera
De todo canto sua gente é cuspida
E toda criação de arte que há em ti deve ser entendida
Como poesia viva em meio ao concreto de tuas estranhas