Poesia para Sampa

Quis, em vão, me encontrar

Nas esquinas de tuas avenidas

E por não ser de ti filho nato

Não sei se me causaram profundo encanto

Ou, talvez, tamanho espanto

Os contrastes de tua paisagem urbana

De súbito, me questionei:

Como pode a arte persistir

Em meio ao concreto de tuas estranhas?

Surgiram, então, as primeiras impressões

Das paredes dos muros de seus prédios erguidos

Manchas de tinta, palavras escritas

Pelos dedos de teus filhos

Estão tatuadas em teu seio

Algumas, com tal veemência

Enfatizam a opressão de seu povo

Criticam a corrupção, denunciam a violência

Trazendo à tona a podridão do governo

Falavam-me, São Paulo, de tuas vergonhas

Mas em teus muros de tudo impressionado eu lia

Desde poemas de amor às coisas mais banais da vida

Foi assim que comecei a perceber

Que em ti há arte por toda a parte

Quer nas esquinas de tuas avenidas

Quer nos morros de tuas favelas

Onde o povo humilde, sem opção, se aglomera

De todo canto sua gente é cuspida

E toda criação de arte que há em ti deve ser entendida

Como poesia viva em meio ao concreto de tuas estranhas

Via Poética
Enviado por Via Poética em 19/08/2015
Código do texto: T5352034
Classificação de conteúdo: seguro