Pífano

Fiz desse canto meu recanto,

lar de minha desolada solidão,

profusão de encanto e desencanto,

imaginário de desilusão,

abrigo para a consternação,

na rebeldia dessa alma sem remédios...

Fiz dessa estrada minha morada,

casa de pouso de minha irriração,

estrelado céu noturno sem correção,

intensidade de palavras vãs,

enquanto espero uma chegada,

na partida de um adeus sem despedidas...

Fiz desse espaço meu compasso,

na estreiteza de um sentido,

buscando acertar algum passo,

direcionando meu ímpeto ressentido,

guiando sem bússola pelo deserto,

na longitude de pontos cardeais desencontrados...

Fiz dessa redoma minha cama,

minha prisão de asas acorrentadas,

cercando-me de óleo em chamas,

impedindo meu vôo de Ícaro,

ouvindo o último toque de um pífano,

delirando em alteregos de saudades perdidas...