A Saudade e os netos
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, 6 de agosto de 2015
Hoje acordei com saudade. Fui ao dicionário e encontrei: “Saudade, sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”.
Também pesquisei sobre a palavra neto: “filho de filho ou de filha em relação aos avós; filho de um descendente de primeira geração.
Curiosamente também encontrei: “nas touradas, indivíduo a cavalo responsável por transmitir ordens”.
Fiquei perplexo para a segunda opção. Nunca fui avô a transmitir ordens para os meus netos.
Para saudade, prefiro ficar com “experiências prazerosas já vividas”. Digo isso porque minha saudade é dos netos quando ainda crianças. Saudade de sempre tê-los perto de mim. Saudade das idas às praças, vê-los correr, saltitar, cair, chorar e eu ali, sempre pronto a ampará-los.
Saudade das idas ao circo, olhar para eles e vê-los sorridentes e felizes com as atrapalhadas do palhaço, sentir a emoção estampada em seus rostos durante o salto mortal dos acrobatas, lá no picadeiro. Comprar pipoca, balas, algodão doce e sorvete, eles se sujavam todo, mas eu não me importava, era o sujo da felicidade.
Saudade das vezes que, à noite, eu deitava com eles em uma rede, na varanda de nosso apartamento e pedia que todos ficassem calados, para ouvirmos o som da cidade, do mundo, o silêncio da noite. Eles descobriam sons longínquos, um cachorro latindo, uma criança chamando pela mãe, uma freada brusca de um carro, a buzina de outro, o apito de um guarda, o grito de um passante. Eram descobertas fantásticas, às vezes não tão reais, só a vontade de colaborar na brincadeira. Assim, eles adormeciam, adormeciam em meus braços, cada um querendo ficar mais junto de mim.
Muitas vezes, nessa mesma rede, eu cantarolava canções que tinha aprendido com o meu pai, como esta: “lá em cima daquele morro, tem um canarinho cinzento, que à tarde de todos os dias, faz o meu divertimento...” Eles só não gostavam porque o canarinho, ao final da canção, é comido pelo gato. Mesmo assim, eles sempre pediam para eu cantar novamente.
Saudade das viagens de férias que realizávamos, das idas à praia, das comemorações dos aniversários, sempre festejados ruidosamente. Era realmente uma festa..
Saudade das macarronadas, a melhor do mundo, que eu preparava para eles, das pizzas, massas produzidas pelas minhas mãos, que eu abria e colocava o molho e complementos. Eles achavam deliciosas e eu ficava satisfeito, sorria ao vê-los também satisfeitos.
De vê-los todos à mesa, conversando, falando sobre os acontecimentos do dia, nada importante, mas bastante divertido. Eu os escutava com carinho, intervia quando um deles se exaltava.
Três deles cresceram, hoje são adultos. Agora, quando estamos juntos, eles sempre me recordam daqueles tempos.
Ainda tenho um neto pequeno, que gosta muito de mim, mas as novas tecnologias – TV, Tablet, Smartphone, PlayStation, XBOX -, e outras novidades do gênero, tomaram o lugar dos avós. Também não tenho mais varanda nem rede para com ele deitar e brincar aquelas brincadeiras bobas.
Sinto saudade daquele tempo, mas não melancolia; segundo o dicionário quer dizer: sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação