INOCÊNCIA PERDIDA

Agora abro minhas asas,
sob o céu da eternidade,
delicadamente,
e com a suavidade
de uma gaivota sobre o mar.
Assim minh’alma paira ao luar,
sem nenhum contratempo,
entre as escuras,
dobras do tempo.

Na busca do meu futuro,
mergulho lá no fundo,
bem profundo,
do meu passado.
E com grande apuro,
busco no escuro,
o manto da incerteza,
destituído de toda beleza
tão roto, tão surrado,
que poderia cobrir,
sem ferir a decência,
toda pueril inocência,
que ficou,
para sempre perdida,
tão distanciado que estou,
desta outra vida.

Hoje, não sou mais,
do que a sombra,
que na noite,
do meu sonho errante,
vagueia tão insignificante,
muito mais relutante.
É apenas mais uma,
entre tantas,
que se despediram,
muito cedo,
sem nenhum medo,
antes do raiar da mocidade,
e que permanece apenas,
na lembrança e na saudade.

marcOrsi