CONTAMINAÇÃO

CONTAMINAÇÃO

Apavoram-me as suas vestes

de normalidade

Foi na página da loucura que abri seu livro

Comprei até um marcador de metal

pesado

para que nunca desmarcasse aquela fantasia

Eras um idílio

com gosto de algodão doce

Fazia festas no salão da minha imaginação

Roubava as garras de todos os meus segredos

e me punha nua a dançar

na palma de sua mão

Sem medos

Brincavas comigo de palavrear

Fazia de uma letra

ar

fante minha respiração

Olhava em volta e nada via

palavra extasiada

Tudo emoção

E agora,

chega-me cheio de concretudes

de verbos facilmente desvendáveis

inteligíveis

decifráveis

onde se enlameastes menino

de tanta coerência?

Pareces outro

O algodão doce perdeu a consistência...

Líquido,

derrama-se agora

pelas vielas do senso comum

Perdi a fome menino

Farei jejum

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 23/06/2015
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