ABENÇOADA INFÂNCIA
Badalava o sino, chamando para a reza,
E a porta da casa se deixava mesmo aberta,
pois não havia perigo algum, como por cá.
À capela chegando, todos rezavam
E, em louvor, todos cantavam
À virgem Maria, padroeira de lá.
No final do terço, a criançada,
Correndo alegre, formava roda
Brincando assim... a cantar.
Na volta, no fogão à lenha,
Acendia-se o fogo e começava-se
A preparar o jantar.
Num canto, a primeira lamparina era acesa.
E procurando por ele, eu o encontrava
Em sua escivaninha a chorar!
Fazia poemas para ela,
Admirando o jardim bonito que foi dela,
Desabafando assim, as saudades!
Corria, então, ao seu colo, já de banho tomado.
Ganhava um cheiro, um doce afago
E papel e lápis para desenhar.
Assim, com meus rabiscos, conseguia
Tirar a amargura e a agonia,
Que nele teimavam em pousar...
Era então levada para um passeio,
No colo mais fofo e faceiro,
De quem me ensinava a amar.
Enquanto a sabiá, que no ninho,
Chocando alegre os seus ovinhos,
Só se importava em cantar!
A goiabeira proibida
Era escalada, às escondidas,
Naquele lindo pomar.
E, a noitinha, o jantar era o motivo,
Para a reunião da familia,
Que o tentava poupar...
Depois, então, o cafezinho,
O bate papo no quentinho,
Em volta da fogueira.
Adormecia, assim, no colo do avô querido,
Enquanto, admirando as estrelas,
Ouvia estórias faceiras...
Levada, portanto, ao colchão macio
E envolvida por um lençol fininho,
Deixava escapar uma risadinha abafada.
_ Espertinha... Deus te abençoe!
Logo, com um sorriso
Entre os lábios de criança,
Eu dormia saciada!
E assim, cresci, lembrando dele,
Carregando com carinho, em meu peito,
Todas as lições que aprendi:
Amar, sonhar e viver assim...
Pois, lá fora, só há prantos
E agonias sem fim!