AUSÊNCIA
Li o livro de Rubem Alves chamado "entre o tempo e a
eternidade", há quase três anos.
Rubem Alves faleceu ano passado em maio ou junho.
E quando li, entendi que era uma despedida. Acabei de reler, e
casa com o momento em que meus sentimentos são de perda.
Perdi meus pais em um e dois meses de uma forma muito rápida de
doída.
Compartilho um poema de Drummond que ele escreveu.
"Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba de mim".
Concluo a edição desse poema de Drummond, citando a interpretação de Rubem Alves:
"Sentir saudade é sentir ausência: a gente sente saudade porque a coisa amada está ausente". E ele substitui a "ausência" de Drummond por "saudade", e saudade "velhice". E. dessa forma, escreve um verso com duas linhas:
"Porque a velhice, essa velhice assimilada,
ninguém a tira mais de mim...
ALVES, Rubem. Entre o tempo e a eternidade. Campinas-SP: Papirus, 1995, p. 62.