Cai a gota de orvalho no chão.
Refestela-se.
Esparrama-se.
Deita-se sobre o infinito.
Mas o sereno em seu perfume
contamina as memórias arquivadas.
Há muito tempo
Cai a folha flanando.
Em ritmo de valsa no chão
O outono é uma grande valsa
Onde tempo se renova,
Rodando nos salões cíclicos da vida.
E nos mostra a temeridade do sempre.
E, que haverá novos seres e esperanças,
vão povoar nosso imaginário.
Cai a flor madura de seu talo.
Pétalas se separam em silêncio.
É o fim da primavera.
Suas cores feneceram.
Seu perfume passou
A beleza deixa
vestígios inesquecíveis
Mas é a verdade,
nos deixa temerariamente
belos... finitos...
plenos e enraizados
no pólen que se espalha
freneticamente...
E, finalmente crescemos,
abandonamos a infância
entramos no turbilhão de hormônios
e, na dança de acasalamento
E sobrevivemos somente para
o declínio da existência
para temer o frio,
a queda
e os invernos rigorosos.
Cheios do gelo da indiferença
Cheios de armadilhas para os pés
E para bambear pernas e propósitos.
Cai mais um orvalho
E escorre pelos olhos saudosos.
Toda primavera conhece afinal o outono.
Todo verão conhece um dia o inverno.
Todo ser conhece a poesia
irremediável,
inexorável.
Pois somos rimas insensatas
A vagar a procura de um lirismo
Perdido em pleno entardecer
das almas.