Sentimentos de um amor ausente

A chuva na janela marca o compasso de mais uma noite de solidão,

em algum lugar deve haver alguém que compreenda minha angústia,

alguém com quem eu possa trocar palavras de tristeza e saudade,

quando toda uma trajetória foi se apagando sem deixar vestígios,

lágrimas cessaram no entorpecer de sentidos e sentimentos ausentes,

todos os passos começaram a caminhar na inversão da rota,

como antigas fitas de vídeo rebobinadas ao começo,

mas um começo sem continuidade, sem meio, sem fim,

e agora somente a friagem dessa garoa demonstra algum movimento...

A luz se apagou no último temporal e desde então nem velas iluminam o caminho,

tudo tão calmo e silencioso na penumbra de sonhos sem recordações,

caixas de papelão vazias expressam o que me vai à alma,

palavras ocas, dedilhados de uma música surda, perderam-se as conexões,

em cada canto de um rodapé gasto pelo tempo apenas a poeira dos dias,

não há mais nomes, não há mais móveis, não há mais risos,

a escuridão veio fazer morada definitiva em meu interior,

e hoje sou feito apenas de esquecimento e dores jamais curadas,

enquanto desapareço como um fantasma lançado ao abismo...

Olho sua luz amarela, sempre faltante, sempre distante,

sei que ainda vive por causa de um email inativo,

uma amnésia tragando cada breve respiração que ainda teima em insistir,

a sensação de que no fim de nada valeu experimentar o efêmero,

à não ser para remoer esse corte que sangra por longos períodos,

planos e sonhos cada vez mais se esmaecem na imobilidade dos atos,

afetos sepultados sobre paralelepípedos de uma cidade sem habitantes,

nem mesmo as raízes subterrâneas sobreviveram ao topor de ideias,

tudo tornou-se nada em um estalar de dedos inertes...