LEMBRANÇAS EM UMA NOITE DE OUTONO
Dormes em abandono, sem ressono,
Mente vazia, não há pensamento.
Nada pode despertar esse eterno sono,
Nada pode te causar tormento.
Em mim ainda vives e eu te vejo
Saindo do leito na manhã fria,
E tão forte é o sonho, o desejo
Que sinto a mão morna que acaricia.
A manhã outonal passa desvairada.
Logo virá a noite de capa escura
Abafar minha prece em voz entrecortada.
Engulo, para aliviar da gorja a secura,
A lágrima, meu consolo sublime.
E volto a divagar: batidas à porta:
- Entra! Diz a voz que amor exprime,
De saudade estou quase morta.
O quarto é um céu que sem sol ficou.
A mobília, como árvores desfolhadas,
Esconde uma vida que se despedaçou,
E os sonhos presos em naus encalhadas.
Lá fora um canto, ora sibilante, ora plangente,
A medrar a dor que se esconde em mim,
Zuni o vento que não sabe como gente
O que é saudade de um amor sem fim.
Maria Hilda de J. Alão