De Nora à Mercúrio

A vida é realmente surpreendente, percebo.

Há uns tempos minha paz era meu sossego,

Não importava com quem andasse ou vivesse,

Tão monótono, como se eu apenas vivesse.

Duro ver o dia esvair sem fazer nada,

Enquanto os outros lá fora brincavam

Ficava no canto, sendo sempre isolada.

Sei que no fundo de mim zombavam.

Então, um dia, perceberam minha tristeza,

Tristeza essa que não derramava lágrimas,

Nem se ouvia, talvez pensassem ser frieza,

Mas eu era assim: guardava minhas rimas.

Deparei-me com um belo vermelho,

Irridescente e chamativo, como fogo ardente,

Para mim era apenas um centelho,

Uma chama que me apagava continuamente.

Equeceriam de mim, sentia nas garras,

Continuaria a viver na invisibilidade,

Ele era inocente e eu presa em amarras.

Seria apenas um empecilho sem utilidade.

Me distanciei daquela chama chamativa,

Dquele moleque e sua majestade,

Voltei ao vazio, essa foi minha iniciativa

Para esquecer de quem era só alarde.

Porém, o pequeno era humilde e gentil,

De tal inocência que quis me aproximar,

Aproximei do escarlate sob o céu de anil,

Brincamos juntos até o dia outra vez raiar.

Então senti que seu coração era bom,

Que o menino cor de mercúrio era companheiro,

De alma pura apesar de nem ouvir seu som,

Podia chamar esse alguém de amigo verdadeiro.

Curtíamos a beleza das flores do jardim,

Amigos unidos, vivendo na pura alegria,

Ele prometeu nunca sair de perto de mim.

Mas eis que o futuro veio, e levou-o um dia.

Meu amigo cor de mercúrio era muito calado,

Vivia doente, mas mostrando-se forte,

Era contente e brincalhão, porém reservado.

Dizia ser menino de sorte, por ter tanta beleza.

Foi difícil esquecer quando olhávamos as estrelas,

Ou caçávamos passáros, corríamos contentes.

Um dia, suas lembranças não quis mais tê-las,

O vermelho descoloriu, tornando-me diferente.

Virou ar e desapareceu do jardim e do chalé,

Me deixou sozinha novamente, só com o medo.

Quebrou a promessa, feito as ondas da maré.

Despedaçou meu coração por ir tão cedo.

Lembro de tê-lo visto cabisbaixo, tristonho.

Amarelo, cor de chama sem vida.

Claro, também não somos seres risonhos.

Vida de gato tem que ser bem vivida.

Esperei por uns dias no pequeno gramado,

Fiquei na esperança de um vermelho vir,

Aguentei vários dias, sem ele ao meu lado.

Mas ele nunca voltou, lembrei-me do partir.

Restara de meu amigo apenas o murmúrio,

Meu velho amigo dizia: "Fique bem, Nora!"

Minha saudade era de mesma cor, Mercúrio.

Não cansava de perguntar-me "Por quê agora?"

Demorei a perceber que o meu anjo amigo sumira,

Que meu protetor fora para casa, cumprira a jornada,

Me conformei que o menino Mercúrio partira.

Mas sua marca ficou em meu coração registrada.

Anna Julia Dannala
Enviado por Anna Julia Dannala em 10/04/2015
Código do texto: T5202205
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