Ciclos de Beijo Azul

Trezentos e sessenta e cinco dias.

Quatro Estações inteiras!

E no inverno meu, desta vez,

Choveu torrencialmente.

Ciclos fechados num beijo azul.

Só não consigo fechar

A porta de olhar para trás

Para o nosso amor de entre-linhas

Para o meu amor de estrelinhas

Todas as que eu contava no céu

Sentada na calçadinha

A espera do teu olhar cansado

Pousar sobre o meu, borboletinha.

Olhar o meu inocente e bom de outrora,

Da criança que fui.

E foi tão ontem que nem é descabido

Da criança que “sou”

Nesse meu “mau jeito”

De sentar-me ainda

Nas calçadas da vida.

Amor confuso e tão amor!

Costuradinho de mau jeito

Mas que arde em meu peito

Quando ainda pronuncio eu

Baixinho, bem baixinho,

O teu nome no peito meu.

E gosto eu de lembrar das mãos tuas:

Finas e avermelhadas, tão belas.

Mãos tuas em meus cabelos

A reclamarem sempre do corte.

E dizias-me tu estar eu a parecer

Um ratinho pequenino.

E eu guardei este miminho.

Arrepiadinhos cabelos em desalinho os meus

Igualmente às minhas ideias sobre o mundo, meu pai.

Igualmente às minhas ideias sobre mim e ti.

E já vivi eu trezentos e sessenta e cinco dias

Sem o amparo teu “desajeitado”.

E o que nunca poderia ser perfeito

Hoje é tão perfeito vão

E faz jorrar olho d'água em meu olhar

E faz caminho na palma de minha mão.

Escrevo-te, então.

Conto ainda as estrelinhas do céu, amor meu.

Mas bem sei que eu não posso mais esperar-te.

Ciclos fechados num beijo azul.

Portas do meu amor – abertas num vão sem fim.

E oro a Deus por ti quando o encontro das minhas mãos

Esta sempre tua flor em botão.

Karla Mello

09 de Abril de 2015

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 09/04/2015
Código do texto: T5200145
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