Os Dois Horizontes.

Um horizonte, — a saudade

Do que não há de voltar;

Outro horizonte, — a esperança

Dos tempos que hão de chegar;

No presente, — sempre escuro, —

Vive a alma ambiciosa

Na ilusão voluptuosa

Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância

Sob as asas maternais,

O vôo das andorinhas,

A onda viva e os rosais.

O gozo do amor, sonhado

Num olhar profundo e ardente,

Tal é na hora presente

O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza

Que no espírito calou,

Desejo de amor sincero

Que o coração não gozou;

Ou um viver calmo e puro

À alma convalescente,

Tal é na hora presente

O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias

Sob o azul do céu, — tais são

Limites no mar da vida:

Saudade ou aspiração;

Ao nosso espírito ardente,

Tal é na hora presente

O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza

Que no espírito calou,

Desejo de amor sincero

Que o coração não gozou;

Ou um viver calmo e puro

À alma convalescente,

Tal é na hora presente

O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias

Sob o azul do céu, — tais são

Limites no mar da vida:

Saudade ou aspiração;

Ao nosso espírito ardente,

Na avidez do bem sonhado,

Nunca o presente é passado,

Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? — Perdido

No mar das recordações,

Escuto um eco sentido

Das passadas ilusões.

Que buscas, homem? — Procuro,

Através da imensidade,

Ler a doce realidade

Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

Milay
Enviado por Milay em 27/03/2015
Código do texto: T5185127
Classificação de conteúdo: seguro