SAUDADE DAS COISAS DE OUTRORA

Estava à toa na vida

Busquei memórias adormecidas

Fui bem fundo

Ao tempo da camisa volta ao mundo

Lembrei-me de outrora

Do barulhinho do drops dulcora

Em que o chão luzia

Com cera parquetina

Um período deslumbrante

Em que as mulheres usavam turbante

Em que a jovem-guarda emplacava hits

Usava-se bomba de fritz

A calça legal

Era feita de tergal

Nada era cafona

Jaqueta era japona

Que tempo bom

O do pirulito de chocolate da Kibon

Todo mundo bonitinho

Com seus óculos gatinho

Momento passageiro

Da calça rancheiro

Não sobrou mágoa

Do uso da anágua

Perfume para se sentir master

Era rastro e lancaster

Sabor docinho

O do quebra-queixo e da machadinha

Curtir o sol

Só com rayto-de-sol

Lançamento surpreendente

O do Modess absorvente

Em qualquer vendinha

A bala era a juquinha

Jovem era broto

Anel brucutu

Para refrescar na folia

O bom era tubaína

Leitão à pururuca

Só no fogão mestre-cuca

Sonho de toda menininha

A boneca amiguinha

Cabelos grudados como durex

Só com brilhantina gumex

Para alisar o semblante

Creme de alface brilhante

Brincava-se de bilboquê com blusa de banlon ou de buclê

Saia godê era de piquê

Compras sem fim

Lá na Pirani, na Sears ou no Mappin

Todo ás

Tinha sapato vulcabrás

Na cidade pacata

Andava-se de percata

Qualquer festinha

Pedia uma cerejinha

Toda geladeira tinha sim

Um belo pingüim

Para iluminar o chão do cineminha

E outras coisitas mais, o lanterninha

Calça transada

Era a Lee importada

Tênis, caramba!!

Só conga, kichute e bamba

Chegava-se depressa de lambreta

Até mesmo de romiseta

Comendo mandiopã

E cigarrinhos de chocolate da Pan

Íamos dormir

Sem esperar a mamãe mandar

Bastava ouvir

A propaganda do cobertor Parayba passar

Direito de nascer tinha todo dia

Aos sábados, Bonanza e o Homem de Virgínia

Domingo à noite

Reinava a chacrete

Também era diário

O vigilante rodoviário

Programaço

Era o Perdidos no Espaço

Os meninos brincavam de forte apache

Na rua a criançada ficava até tarde

Pulava corda, jogava bolinha de gude,

Imitava estátua, pegava ferro e batia cara no esconde-esconde

O único mal

Era tomar óleo de fígado de bacalhau

Essa memória duradoura

Confesso, devo ao biotônico Fontoura

Ci Moreira
Enviado por Ci Moreira em 22/03/2015
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