O nascer da poesia que virou saudade
Minhas palavras renascerem das cinzas.
Em tão pouco tempo, foram formando-se na
lentidão de uma gota, aquela chuva que vem e logo
vai embora no galope de um cavalo.
Corri milhares de distância, até encontrar o sentido
para cada uma delas.
Ouve choro, desaterrei o que havia bem no fundo.
Talvez uma profundidade bem estranha.
Cavei tudo o que tinha, descobri frases e dissertações
da minha própria linguagem falada e escrita.
Eu nem sabia de onde estavam vindo tantas palavras
assim, só lembro-me, que vieram de uma grande
tristeza, encabuladas e presa em mim a anos.
Conhecimentos foram se ajeitando, como sementes
embaixo da terra bem germinada.
Do pouco galho, da pouca raiz, da terra encharcada,
consegui com que ficassem fortes e resistentes.
Cresceram, e todo meu aprendizado começou a ganhar
vida, vi o papel com outros olhos.
Todo este crescer, ganhou a maturidade do tempo.
Fui soltando, desabrochando como uma flor sem dono,
sozinha, deselegante.
Mais a quem importava? Somente a mim.
Meus pensamentos eram meus, só meus.
Não havia ambiente pra elas. Com muito custo,
fui traduzindo uma a uma em folhas comuns e
velhas, pareciam mais um lobo uivando no céu sem
estrela, sem vento, na paisagem brusca e pálida.
Quase não tinham vida, e o pouco de mim, dei a elas.
Meus rancores, frustrações, raiva, medo, foi isso que
fiz, depositei em um único texto de cada dia.
Versos foram encontrando seus donos, rimas foram
tomando seu lugar na poesia e em meus sentimentos.
De uma certa forma, fiz a poesia sorrir.
Tinha dias que as folhas choravam comigo, viam o nascer
do sol, a chuva esbrafejante, nublando o mato, podando
a grama com amor e ternura.
A poesia tornou-se minha saudade, meu abraço, meu silêncio.
Um dia quem sabe, nos reencontraremos novamente, no
sulco ao ar livre, pelas águas correntes, ou pelas novas fontes,
hão de vir.
Texto: Luciana Bianchini