Quem sou eu?

Sou apenas uma lágrima

Escondida no silêncio de um rosto macio

Sou apenas um raio de luz

Que esclarece os detalhes da íris

E ressalta o escuro do olhar vazio

Sou insignificante

Vacante

Por um momento vacilante

Um piscar e já me esvaio

Sou um sorriso de infância encarcerado

Esperando o tempo passar

Sou a sombra da manhã

Que caminha para longe do sol

Sou um borrão de tinta

Espalho meu corpo no papel

Sou registro, sou retrato

E de repente sou eterno

Sou palavra

Que escorrega pelo lábio contrito

Sou desejo

Desapareço na incerteza das horas

Sou apenas um sonho

Nostalgia de um passado que não volta

Sou o silêncio dos cômodos vazios

Sou a cama desalinhada

Esperando alguém que não chega

Sou sussurro

Ecoando pela terra batida do quintal

Sou apenas uma estrela

Que se apaga nas nuvens do verão

Sou apenas a serra

Que embaça os olhos na névoa matutina

Sou passarinho

Que voa sem rumo na chuva

Sou gota d'água

Que escorre no asfalto sem fim

Sou o mar

Que não desiste de abraçar a terra imóvel

Sou o farol

Que ilumina sem se iluminar

Quem sou eu?

Meu nome é o nome dos que já se foram

Meu nome é grito, é raiva e desalinho

Meu nome é silêncio, é distância e resistência

Meu nome é saudade

Mas você já me conhece