Lembranças
E essa mania de tudo contado, escondido, aos poucos
Só calado, se é amor que você quer toma, se precisar
De alguém que o doma, me leva, mesmo assim, de mansinho
Em coma, devora, a alma por fora de mim passei, gírias
Mandingas, oferendas, enfim... Toma conta do gim
Sei lá o que eu estou sentindo, pedindo mendigo
Moedas, trocados, farrapos, bons bocados de mim
Sinto que não me pertenço numa humildade senil
Dizem que padre sempre quer reza, eu quero mesmo
A última prega dos olhos juvenis, a matriz da virilidade
Quando tempo passa é assim, dói, tropeça, nem licença
Peça, ele simplesmente apela ao que me prende
Rompe lacres tão intrínsecos, inabitados lugares
Da minha mente, vai ventania e leva tudo o que transborda
Mas vê se não se recorda do amor pela cabrocha
Não me entendem muito quando falo de vaidade
É que não há preenchimento no mundano
Tudo só questão de inverdades e vazios
Cobertores não mais me protegem do frio
Quero inúmeros abraços para me veranear
Irrompendo lá de dentro só mesmo sentimento
O peito é ritmado, a carne pulsa lânguida, febril
O suor escorre imitando o frio, a vida esvai
E mais um desafio... Encarar as estações
Sem ter tempo no calendário para ela
Mas é que a vida passa tão depressa e eu sou tão
Lento, as metamorfoses me permeiam, pedem passagem
Saio da frente, não empaco as ecdises, faço minha parte
É que entendo de correria pois na noite fria, já fiz
Alguns baluartes, modéstia parte, os venderia até em Marte
Tudo muito perecível, tangível, humanoide
Acostumei com o passível de dor, o gemido
A derrota de quem lutou, o choro do vencedor
A contradição tão certa do amor... Coisas da vida
Ainda existe uma tal de memória, ainda choro
Coro, imploro para poder apagar, mas é que é
Tudo masoquista quando você demora, sou todo
Olfato quando você aflora, todo memória quando
Você vai embora...
Gabriel Amorim 28/01/2015