Na janela, mirando

Os olhos na janela

da Cabana Ynday

se perguntam por ela:

onde estará agora?

O panorama está vazio:

pelo menos de pessoas...

Ali, além de uns poucos

maçaricos em revoadas,

só as areias dançando

esta melodia cantada

pelos velozes ventos;

só o som da maré rugindo

nas bocas das rabugentas vagas

lixando o áspero solo praieiro,

aquecidas pela brasa solar

em seu itinerário pelo papel

de seda azul azul do céu,

irmanado por pequenas nuvens,

estas testemunhas tácitas

das peraltices da moleca

e suas parceiras de praia...

Os olhos miram céticos e longe

no horizonte veem flutuando

na baía o arquipélago marajoara.

Mas não a veem: por onde andará?

Correndo, pulando, pegando jacaré?

Catando e comendo ajirus? Goiabis?

Jambos? Mangas? Jabuticabas?

O súbito e rasante voo do pássaro

de metal anfíbio, antes de amerrissar

vai deslizando sua barriga na epiderme

deste pardacento mar-baía, para em seu ócio

assombrar os olhos amofinados,

não só na janela da Cabana Ynday,

mas na face infantil de Joana,

a menina praieira...

O motor roncando fortemente

iguala-se ao som da arrebentação

das ondas, em seus beijos molhados

dados nas pedras da Ilha do Amor.

É uma Catalina, diz Pai André

à maravilhada menina praieira.

Vem trazendo ajuda da ONU pra nós!

ONU? O que vem a ser isso?

Se ela ainda não sabia, tão pouco

Pai André podia esclarecer,

nem Mãe Georgina, a Baiana

daquela praia do Farol...

o avião trazia comida, leite, bolachas,

trazia roupas usadas --entretanto,

no cheiro e na cor aparentando o novo--;,

mas para a peralta menina praieira

a Catalina só alimentava a fantasia:

era apenas um brinquedo a mais

a seduzir seus olhos com o encanto

vivo em sua íris de negrume caboclo,

de menina-bota, bela menina-iara,

de menina do rio e da praia, irmã

das areias, do vento, do sol, das águas,

ainda hoje bricandocorrendovoando,

saltitando em meio às nuvens

em seu mundo de constantes sonhos...

Mas não mais estão ali os olhos antigos mirando,

nem está mais ali a nostálgica Cabana Ynday.

Ali, apenas meus olhos, na escuridade vagando,

e na névoa de meus sonhos voláteis,

em busca de duas mãos insofismáveis

que devem descer derramadas pelos ventos

a me guiar alçando-me na direção das nuvens...