Este resumo de um cansaço imenso

Não só de mãos compõe-se um gesto:

A própria vida conta-se nos dedos.

E tanta história ao decompô-lo deito

Ao peitoril da construção antiga

Que me ponho a pensar do que foi feito,

Se me amparo em tijolos ou em homens,

Se é argila ou paixão que os cerca e une,

Se são perguntas novas ou as mesmas

De quem outrora via o horizonte,

E vendo como eu o sol sumindo,

As árvores ao longe balançando,

Estrelas entre lágrimas brotando,

Passava então do peitoril ao peito,

Sentia em seu bater a finidade...

Também em si, no entanto, o infinito

Pulsava, o universo uivava inteiro.

E tudo afora imenso e sem ruído

Que só se ouvia o coração batendo...

Mas pouco a pouco o tempo prosseguia

A flor, a cor, o dia aparecendo...

As cores que acediam, e açucenas,

Cumprimentando os olhos num aceno,

Os sons que vão surgindo do silêncio

De encontro rebentando nas orelhas,

E os cheiros, tantos gostos, traz o vento

Tirando para dança nossos poros,

Ah! A vida que canta e se balança,

Ora corre silenciosamente

Nas veias, nos cântaros dos olhos,

Na intensa vibração de um dia quente.

E o próprio sol fulgura por resposta...

Então, da orelha de Van Gogh a minha,

Sim, do nariz de Cleópatra ao meu,

E dos olhos de Édipo tão nossos,

Há qualquer coisa ainda a arrancar-nos

A alma e dor bastante a todo mundo,

Poder e glória, luxo e tanto lixo,

E... E... Miséria e alegria junto...

Qualquer coisa a compor um tal sorriso

Não tão indecifrável, pois sentido.

O dia segue, breve brisa bate.

E então resumo este cansaço imenso

Pois novamente ao peitoril eu deito

E num suspiro milenar feneço.

Franciele Bach
Enviado por Franciele Bach em 01/12/2014
Código do texto: T5055517
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.