Este resumo de um cansaço imenso
Não só de mãos compõe-se um gesto:
A própria vida conta-se nos dedos.
E tanta história ao decompô-lo deito
Ao peitoril da construção antiga
Que me ponho a pensar do que foi feito,
Se me amparo em tijolos ou em homens,
Se é argila ou paixão que os cerca e une,
Se são perguntas novas ou as mesmas
De quem outrora via o horizonte,
E vendo como eu o sol sumindo,
As árvores ao longe balançando,
Estrelas entre lágrimas brotando,
Passava então do peitoril ao peito,
Sentia em seu bater a finidade...
Também em si, no entanto, o infinito
Pulsava, o universo uivava inteiro.
E tudo afora imenso e sem ruído
Que só se ouvia o coração batendo...
Mas pouco a pouco o tempo prosseguia
A flor, a cor, o dia aparecendo...
As cores que acediam, e açucenas,
Cumprimentando os olhos num aceno,
Os sons que vão surgindo do silêncio
De encontro rebentando nas orelhas,
E os cheiros, tantos gostos, traz o vento
Tirando para dança nossos poros,
Ah! A vida que canta e se balança,
Ora corre silenciosamente
Nas veias, nos cântaros dos olhos,
Na intensa vibração de um dia quente.
E o próprio sol fulgura por resposta...
Então, da orelha de Van Gogh a minha,
Sim, do nariz de Cleópatra ao meu,
E dos olhos de Édipo tão nossos,
Há qualquer coisa ainda a arrancar-nos
A alma e dor bastante a todo mundo,
Poder e glória, luxo e tanto lixo,
E... E... Miséria e alegria junto...
Qualquer coisa a compor um tal sorriso
Não tão indecifrável, pois sentido.
O dia segue, breve brisa bate.
E então resumo este cansaço imenso
Pois novamente ao peitoril eu deito
E num suspiro milenar feneço.