Margarida

Belém, 02 de outubro de 2014.

Margarida aprontou-se

Logo cedo

De um punhado de milho

Arremesso

Umas patas se bicando

Pato aceso

A lagarta de fogo

Tem-lhe medo

Vira a costa do biju

Vem o leite

Mão tremida no cabelo

E enfeite

Vestido estampado

Velha Lady

A sombrinha meio torta

Que se ajeite

Antes de sair

Uma reza

Bolsa pensa

Se não pesa

Pisa à rua

E começa o dia

“Bom dia Seu Tonho

Como vai?”

“Bom dia Dona Graça

Ô meu pai!”

“Tu soubeste da Filó?

Mas que dó!”

“Quem diria do prefeito?!

Foi bem feito!”.

Tem visita às nove horas

Mulher prenha

Lá do quarto se escuta

Dor que tenha

Senhora do Bom Parto

É a senha

A parida do bom ser

Que se empenha

Vem o cheiro amargo

Que procede

Andiroba mela

Tanto fede

Tão cansado é o embalo

De sua rede

O diploma pregado

Na parede

Obrigado comadre

Margarida

Gratidão para o sempre

Margarida

“Que que é isso comadre?”

Despedida

“Só respeita o resguardo”

Que avisa

“Boa noite penteadeira”

Que fechou

Mesa dura solitária

Que jantou

“O que disse lamparina?”

Apagou

A aurora da infância

Faiscou

“Vem menino bora viajar?”

“Vê os olhos das gentes lhe falar”

“Recomeço no andar que fazes”

“Eu matuto nas ideias que cases”

“Vem ispia a cigarra

A cantar”

“Te esconde do trovão

A te ralhar”

“Arremeda a plantinha

Balançar”

“Sai da chuva senão vai

Amofinar”

Margarida parou de dar bom dia

Margarida assuntos não havia

Margarida quietou a sua rede

Um orgulho pregado na parede