no tempo da brilhantina
quando a visitei da última vez,
sua rua ainda não era uma avenida,
ficava molhada, mas despercebida
depois que a chuva passava
não usava salto alto,
nem vestido comprido
porque a rua era de terra,
era de chão batido
as árvores olhavam pra ela
com aqueles olhos compridos,
cismadas com aquela inocência,
se era maior que a delas
era o tempo da escola
o EP na blusa branca
os cachorros a festejavam
merenda no embornal
tudo hoje é tão igual
os cachorros foram embora
as árvores desapareceram
a rua ficou mais larga
seus olhos me esqueceram
os automóveis buzinam
sons ensurdecedores
as lojas, agências de banco
calçadas de consumidores
mas eu ainda me lembro
embora pareça esquisito
que ela ficava assustada
quando os terrenos baldios
ficavam cobertos de flores
o que hoje é avenida
já foi uma rua de amores