meu povo...

A tarde desvanece e o povo

adormece...no rescaldo da vida

no rosto uma expressão perdida

a vida que se evade, a terra ao abandono

o último pássaro adormece

na copa do loureiro,

o rio em movimento

e no coração das gentes o estremecimento

como será o amanhã? E uma inquietude

sem fim...

Dorme com o velho sonho

que será feliz ainda assim...

Com o que lhe resta, segue em frente

é preciso que o corpo obedeça

mesmo que já não tenha onde ir

nem lhe interesse o porvir,

a terra será seu sonho sem tamanho

o que sabe da vida é sua fortaleza

e da terra o amanho

dos pássaros conhece os trinados

tudo sabe das luas, dos ventos, das estações

cansados, cansados de tanto saber

do plantio, da rega, da apanha, da entrega

da velha arte, do ofício... sem ilusões,

sua existência é feita de sacrifício,

se já nem a dor faz sentido,

outra vida poderiam ter tido?

Privado de tantos prazeres que outros têm à mão

levou a vida cavando a terra

um dia parte leva cicatrizes e

solidão e descansa finalmente

no seu amado chão.

natália nuno

rosafogo