Quando se ama
A noite custa a terminar, a aurora custa a resplandecer
Sonho sem os olhos cerrar, imagens insistem em permanecer
No silêncio que tudo quer expressar,
um dia tão lindo que nem sei contar
Um terno bom dia, digo com alegria a quem pelo caminho encontrar
Olho ao redor, passos apressados sob um céu em tons dourados
Uma coreografia orquestrada pelos automóveis em urbana poesia
Em frente a um jardim, sinto o aroma das flores e apanho um jasmim
Na mente um rosto bonito, de pele macia
Está a caminho numa espera sem fim
Entro em seu carro e cruzamos olhares
Uma voz suave ao ouvido repousa,
fala baixinho, suspira e não ousa enlouquecendo meu coração
Num olhar acanhado sente o calor da minha mão
Leva a seu peito e com carinho num toque, assim, com pouco jeito
Fica a um instante da partida, toco em seu cabelo e faço um apelo
Demora um pouco, é cedo ainda, e de novo sei que logo se finda
Essa menina amedrontada que do guarda-roupa expressava
com timbre amargurado suas dores, medos, angústia e dissabores
Buscava repartir com seu amigo fiel, que praticando o divino ensinamento agia com cumplicidade e afeição, guardando as palavras
no coração numa troca constante de singela emoção
O tempo que voa curando feridas
Desatando nós, agora dissipa expressões contidas.
Maltrata saudade inimiga da paz, que do perfume da flor
a meiga imagem da figura nada desfaz
Então, assim como principiou, ultimou-se
Esvai-se o contato, afugenta-se o tato
e na inevitável amargura me afasto
Há medidas até para calor, só ninguém mede,
nem ela, o tamanho do meu amor
Foi-se, nem rastro deixou, não sei de sua gente, nem casa mostrou
O fone que emudecido é só o que restou
Ficou um amigo, ficou um poeta, ficou a verdade.
Uma pena, menina, se nada disso te afetou.
Na parede da memória, que nada destrói
O quadro mais lindo é o da lembrança, e é aquele que mais dói
Assim, quando se ama toda a cor tem um matiz
Toda vida uma saudade
No entanto sempre o meu desejo
Seja muito feliz!
A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras (Aristóteles).