Ser

Ser criança num inverno de alma e cobrir os olhos pra não ver as verdades

Manchar os dedos pra não ver os cortes que as lágrimas fizeram

Ser criança.

Crescer dói, faz caminhos novos na alma

Torna ferro o que era borracha

Cicatriza e queima o que era mau presságio

Braços e pernas curtos, pra segurar os sonhos junto ao peito

Mente desvairada pra construir edifícios dos nossos desejos

Ser criança, pena.

Pena de ser adulto, pena não poder voar.

Sujar a cara, melar a roupa

Ir pra guerra da irresponsabilidade

Deliciosa, e rápida.

Pisco os olhos e não sou criança...

Cresci e não notei.

Quem sabe a alma perdura?

Aguentando o vento pra manter a larva aquecida

Sendo ela mesma, sempre e sempre, pra sempre?

Segurar a barra...

Esperar o vendaval passar.

Ser criança, numa época sem cheiro nem cor

Tudo que se pode ser, desde que se deixou

Saudades de voltar, à mesma dança ao mesmo par

Voltar ao baile de riso e esperança

Abrir a porta de casa, e ser criança.