SAUDADE
Parei rodeio do tempo
na solidão do infinito,
e fiquei bem esquisito
sofrendo barbaridade,
pois estou na orfandade
da minha china distante,
ando passos vacilantes
fugindo da tal saudade.
Saudade, amarga saudade
gosto da separação,
no brete do coração
entrou sem pedir licença,
para causar desavença
julgando-me invalidade,
pois eu sofro de saudade
e disso já tenho crença.
Saudade, não sejas cruel
peço: abrande minha dor,
já não tenho mais vigor
e não sei viver contente,
ouvindo um som estridente
num ritual de solidão,
cortando meu coração
que já era indiferente...
Saudade, traga de volta
minha querida chinita,
o meu coração palpita
e sofre mui arrenegado,
como um cusquito enjeitado
que vive perambulando,
saudade, estás me deixando
como um galo derrotado.
Coração, xiru gaudério
potro xucro mal domado,
porém, conheceu o alambrado
no piquete do meu peito,
certa prenda de bom jeito
num ensaio de sapateio,
me prendeu pelo freio
num fandango sem defeito.
Saudade é pialo bem grande
lançado com precisão,
num tiro em primeira mão
que nos piala o fundo d’alma,
e nos faz perder a calma
deixa à face dissabor,
no meu ser sulcos de dor
tal qual a folha da palma.
És amiga da tristeza
e castigas cruelmente,
a alma de qualquer vivente
quando fica no abandono,
e o guasca rei do trono
verde-azul desta coxilha,
marco da vida andarilha
te guarda como patrono.
Saudade, é potreiro macho
que não escolhe rodeio,
é o negro do pastoreio
que hoje vive no céu,
é o selvagem já creu
distante do seu povo,
saudade, tu tens o retovo
do meu rústico sovéu.
Saudade, o guasca lendário
e xucro desta campina,
te respeita como a china
que trás junto ao coração,
pois tu não tens compaixão
e pra ti não tem distância,
que encurte a rudeza da ânsia
da falta do meu rincão.
Eu bem sei velha saudade
que ao passar deixas a marca,
no peito do guasca monarca a
que não se entrega pra nada,
mas, aquela china amada
vive daqui bem distante,
bendigo o bueno instante
que em mim fizeste pousada.
Meu peito vive tristonho
de sofrer está cansado,
pois o potro mal tratado
morre a míngua ou vive torto,
já que me falta o conforto
da minha amada querência,
peço à suprema existência
para no pago eu ser morto!!!