Pintei minha saudade
[A Tela]
Nas paredes do quarto, o tom branco solidão
As tintas, o carvão
Lágrimas destilaram os pigmentos, furta-cor no coração.
O carvão d’alma, os fragmentos, a ferro e a fogo extraídos
...
Vou desenhando os sons, os sonhos
...
Os áfonos sons, os suspiros que não ouves
Esboços, de ramos primaveris em luz; em cor
Pétalas, avermelhadas voam suaves
Um ton sur ton e bem me queres
Lá fora; um farfalhar de asas
Um revoar de aves invernadas
Amareladas folhas ao vento
Em um ir-se embora
Aqui, dentro; sinto-te em tintos...
Ser e sentimentos, viva pintura
De um apaixonar-se nos tons aquareláveis
Deste teu mar que acaricia; minha pele
Pintei-te raiz, noite de arabescos em gris
E as nuances negras, dos teus cabelos
Pintei-te estrelas, enlevos, lua em fases
No corpo a garbosidade e a vigor
pinceladas com o toque preciso do desejo
Em movimentos sensuais da minha mão
Tua face nua e o teu sorriso...
Ah! O teu sorriso! Pudesse eu tê-los...
Então, os pintei, em novelos sem começo
sem entremeios, sem fim... sobreposto
...
Na parede agora; a saudade de ti a me fitar
Nas minhas sombras, o reluzir do teu rosto