Desejos
O que mais quero? Não pertencer,
Ser a própria aridez da ausência,
Sentir o tempo escorrer, a saudade
Ferir a distância exata de seus agudos.
As fontes eternas, ricas de água fria.
As tempestades do mar em praia segura,
O riso inocente das crianças em dia azul
As madrugadas sonoras feitas de chuva.
O que mais quero é este dia nublado,
A sorte alegre dos pássaros ao céu,
O sonho que se cumpre sem grandes presságios.
A honestidade de uma paixão e suas ardências,
As festas de fim de ano com abraços e luzes,
A tristeza encontrada enfim sob as pétalas dos dias.
O que mais quero é o que me inunda
E não tem nome: vício transcendente,
Luz que inaugura novas realidades,
A densidade poética de um abraço.
O que mais quero é o amor e sua força bruta
Em mim, me cavando, me diluindo,
Me sumindo até não restar nada,
Nada além de um nome prosaico
Que sucumbiu à força do Mistério
E que estará em paz com a Vida.