Zero Hora
Lembro-me de um tempo
Quase apagado
Noites sem fim nem começo
Beirando sonhos
Tecendo as palavras
Das entrelinhas daqueles textos
De português com muito erro
Ou cheios de pretexto
Do outro lado da memória
Adormecem antigos desejos
Nuvens da madrugada exalam um bom cheiro
Todos os caminhos são tomados pelo nevoeiro
O chão tem rastros de ascendentes
Passos firmes
A cor limpa da alma bem visível
Aquela multi-colorização...
Dei passos adiante
Retornaram memórias
e se foram num instante
A leveza que as palavras não descreveriam
Fez-me flutuar
Naquele meio-termo entre ilusão e real
A água da chuva já caía no telhado
Não me senti só
A imagem suave do quadro empoeirado
Foi tomando conta do quarto
Como a boca do faminto
Devora o alimento.
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