Do Silêncio à Saudade

Silêncio

É do silêncio que eu mais preciso

Para alastrar em meu corpo tudo o que em mim vive

Tudo o que me ocorre, escorre

Derrama, transborda.

Eu preciso de silêncio

Para aliviar as minhas angústias

E degustá-las como todo homem inundado de sentimentos

Eu preciso do silêncio

Para aquietar a minha alma cheia de dúvidas, cheia de saudade

E exacerbada de medos.

Porque hoje, nesse dia tão cheio de tudo e alongado de nada tudo me desconfigura...

É a saudade.

A saudade corre em mim como se estivesse fugindo da sua própria naturalidade

Que é deitar-se nos braços do passado

Talvez esteja fugindo das lembranças, das histórias, das recordações.

A saudade – ainda repito – carrega toda essa emergência

Do que não foi e do que já é.

Por isso desejo silêncio

Desejo silêncio porque tudo o que bravamente escondo

É dito no meu vazio, na minha poesia, nos meus sentidos frágeis...

Inclusive na minha saudade.

As palavras que escrevo nesse instante não dizem nada

Nada

Do que eu gostaria de alimentar por meio delas.

Então, olhe nos meus olhos, provoque-me

Escute no calor do meu silêncio os meus gritos,

as minhas sintonias desarmônicas

Sinta o que eu jamais senti quando escrevi palavras

Palavras que somem por todos os lados no meu caminho.

Porque as palavras não sentem,

Eu sinto.

E acredite, eu sinto tanto...

Uma mistura que sempre se revigora, se renova

Mas nunca se perde mesmo quando eu me perco

(E me perco tão facilmente...)

O que fazer do silêncio e da saudade

Senão poesia?