Ônibus Piumhy-Formiga via Pains

Quanta saudade

do meu tempo de menino,

quando em Corguinhos,

íamos tomar o ônibus para Formiga.

Eu subia a sua escada

observando atentamente as ordens:

"É proibido fumar charuto, cigarro de palha ou cachimbo"

"Encontra-se neste Veículo o livro de queixas"

E bem perto do motorista:

"Eu dirijo, mas quem guia é Deus."

O corredor comprido.

As pessoas assentadas

olhando-me... olhando-me entrar.

Os homens de chapéus

impondo seus nomes.

As mulheres de anáguas

protegendo seus sobrenomes

Palavras de homem

conversas de mulher,

brincadeiras de meninos.

Tudo se misturavam.

Uma mulher com uma criança no colo perguntava a outra:

O que você dá para melhorar a diarréia?

A outra respondia com uma pergunta:

Seu menino teve febre?

O ônibus seguia seu caminho

passando pela suave neblina

daquelas manhãs empoeiradas

de Cunhas, Capoeirão e Tamboril!

E seu balanço e bacadas

Carregavam ainda mais prosa:

O homem ao lado perguntava ao seu compadre:

Seus porcos estão engordando bem?

O compadre respondia:

Tá sim, mas a arroba tá ruim de preço, hein?

O detrás dizia que ia parar com o leite,

porque não tinha preço.

Conversavam sobre tudo

e produziam de tudo:

milho, arroz, feijão, leite...

Era como um coral dodecafônico

onde se ouviam lavras... sonhos... lavras!

Cultivo.

Palavras!

Lá fora as árvores iam passando

sombreando o caminho!

O calcário criando musgos e orquídeas.

O tempo passeando... distraído pelas pedreiras.

O tempo passando nas rodas

de um ônibus chamado Piumhy-Formiga...

Via Pains!

Marco Antônio Pinto
Enviado por Marco Antônio Pinto em 09/06/2014
Código do texto: T4838097
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