Ônibus Piumhy-Formiga via Pains
Quanta saudade
do meu tempo de menino,
quando em Corguinhos,
íamos tomar o ônibus para Formiga.
Eu subia a sua escada
observando atentamente as ordens:
"É proibido fumar charuto, cigarro de palha ou cachimbo"
"Encontra-se neste Veículo o livro de queixas"
E bem perto do motorista:
"Eu dirijo, mas quem guia é Deus."
O corredor comprido.
As pessoas assentadas
olhando-me... olhando-me entrar.
Os homens de chapéus
impondo seus nomes.
As mulheres de anáguas
protegendo seus sobrenomes
Palavras de homem
conversas de mulher,
brincadeiras de meninos.
Tudo se misturavam.
Uma mulher com uma criança no colo perguntava a outra:
O que você dá para melhorar a diarréia?
A outra respondia com uma pergunta:
Seu menino teve febre?
O ônibus seguia seu caminho
passando pela suave neblina
daquelas manhãs empoeiradas
de Cunhas, Capoeirão e Tamboril!
E seu balanço e bacadas
Carregavam ainda mais prosa:
O homem ao lado perguntava ao seu compadre:
Seus porcos estão engordando bem?
O compadre respondia:
Tá sim, mas a arroba tá ruim de preço, hein?
O detrás dizia que ia parar com o leite,
porque não tinha preço.
Conversavam sobre tudo
e produziam de tudo:
milho, arroz, feijão, leite...
Era como um coral dodecafônico
onde se ouviam lavras... sonhos... lavras!
Cultivo.
Palavras!
Lá fora as árvores iam passando
sombreando o caminho!
O calcário criando musgos e orquídeas.
O tempo passeando... distraído pelas pedreiras.
O tempo passando nas rodas
de um ônibus chamado Piumhy-Formiga...
Via Pains!