BADALO
O badalar das horas
No antigo relógio de família
Família perdida
Sumida, inexistente, porém,
Extremamente necessitada.
Meus consanguíneos mais próximos
São os mais distantes,
São remotas lembranças
Daqui e de lá
Que fizeram-me o que sou;
Apesar de não saber quem sou.
Não sei se filha das Minas
Neta dos pais
Sobrinha dos avós
Irmã dos desconhecidos
Ou avó anciã
Dos netos que jamais terei.
Como estes, jamais terei
Tenho apenas a mim mesma
Para o retorno à vida
Retornar...
E tanto anseio dela tenho
“ que me consome por dentro”
Vontade extrema de vida
Apesar do velho relógio
Badalar doze vezes.
Badalo de doze vezes
No meio do dia
Não da noite sombria
Mesmo que o dia chuvoso esteja
Chuva providencial
E propícia para o brotar das sementes.
Sementes diurnas
Sementes fertilizadas
Pelo badalar do antigo relógio
Que fizeram de mim quem eu sou
Agora, nem tão perdida,
Nem tão encontrada,
Porém, com a certeza de que
Apenas mulher sou
E só comigo... mais uma vez
Posso contar.