BADALO

O badalar das horas

No antigo relógio de família

Família perdida

Sumida, inexistente, porém,

Extremamente necessitada.

Meus consanguíneos mais próximos

São os mais distantes,

São remotas lembranças

Daqui e de lá

Que fizeram-me o que sou;

Apesar de não saber quem sou.

Não sei se filha das Minas

Neta dos pais

Sobrinha dos avós

Irmã dos desconhecidos

Ou avó anciã

Dos netos que jamais terei.

Como estes, jamais terei

Tenho apenas a mim mesma

Para o retorno à vida

Retornar...

E tanto anseio dela tenho

“ que me consome por dentro”

Vontade extrema de vida

Apesar do velho relógio

Badalar doze vezes.

Badalo de doze vezes

No meio do dia

Não da noite sombria

Mesmo que o dia chuvoso esteja

Chuva providencial

E propícia para o brotar das sementes.

Sementes diurnas

Sementes fertilizadas

Pelo badalar do antigo relógio

Que fizeram de mim quem eu sou

Agora, nem tão perdida,

Nem tão encontrada,

Porém, com a certeza de que

Apenas mulher sou

E só comigo... mais uma vez

Posso contar.

LAUDICÉRIA VERARDO
Enviado por LAUDICÉRIA VERARDO em 28/05/2014
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