quarto calado
não me lembro de ter me achado impuro
me lembro foi de um terno engomado
nem que eu tivesse medo do escuro
pois vi que nada tinha acabado
minha casa, meus papéis, meus escritos
meus temores rindo da solidão
uns anseios para lá de esquisitos
na camisa eu pregando o botão
a parede que faltava pintar
no telhado eu precisava subir
só pra ver se poderia escutar
a canção que nunca soube ouvir
no quintal havia até carambola
tartaruga come o bicho-papão
e o mundo que encontrei na escola
já fugiu do alcance da minha mão
os gemidos da cachorra no cio
o galinho garnisé que acordou
sabiá bebendo água no rio
tinhorão que hoje não se enfeitou
a penumbra desse quarto calado
a cadeira que não fala comigo
e esse sonho que me põe acordado
e que insisto que não é de castigo
pelo mundo meia volta não dei
nem preciso tudo está por aqui
com a tristeza tantas vezes contei
da alegria tantas vezes fugi
o silêncio é um refúgio – que nada!
quero ter alguém com quem conversar
um alguém com quem comer marmelada
e correr pra não esquecer de chegar