BRUNO MONTI...QUANDO TU CANTAVAS
Quando tu cantavas,
tínhamos orgulho dos teus genes.
Dos teus olhos, as lágrimas nos molhavam.
Éramos teus, éramos tuas, eras nosso.
Eras a voz e mais:
O homem, a estrela,
o Pai, o brilho,
a fonte inesgotável de poesia.
Eras um canto forte e delicado.
Imperial,
senhor do meu encanto
e de outros tantos papéis.
Eras o som,
possível, inatingível.
Uma luz, a precisão de um médico,
alma de um Poeta.
O jornal te anuncia,
as letras te ouvem na melodia.
Em dia nenhum, podia ficar longe de nós.
Num teatro, talvez, te ache
mas no meu coração dormes.
Nos meus olhos cantas, eternamente.
Eras e continuas sendo.
Nascendo-me em lembranças,
passeando e irradiando luz.
Eras a nota maviosa, o navio zarpando.
Outros mundos chegando.
Cabiam tantos na tua alma
e na tua voz.
Eras a voz e mais:
Senhor, Pai,
vida se dilatando na garganta
e perfumando no entorno.
Ah ! Meus braços sentem tua falta,
meus ouvidos buscam, além da graça, o riso,
porque, ao mundo é preciso, de alguma forma, voltar
a quem amamos muito e mais.
Estás aqui perto,
numa nota que pressinto,
em um perfume que não precisa de aromas.
Eras meu pai cantor.
Continuas a cantar,
iluminando o olhar, janelas e estrelas.
O canto que abre as portas,
a mão que afaga o dia e a noite.
Mandas que eu sorria sempre.
Sempre serás.
Aqui estás em meu peito.
Aqui estou, sem jeito, querendo cantar.
Pai, tua voz me dá alegrias.
Uma poesia que não sei por no papel.
Acho que escrevo no céu,
para que anotes.
Serás sempre um canto,
um sonho,
o que eu sou.
Eras um canto em um canto nosso,
essa voz, em nossa muda voz.
Mágico, eras mago e Pai.
Quando tu cantavas, era uma montanha,
um canto aconchegante.
Éramos nós, espalhados no palco.
Eras o mundo sem o antes,
sem o depois,
só o agora.
Eras a voz.
Foi uma distração da vida,
te levar sem autorização
mas nunca fostes.
Estás aqui.
Tu vens no som da memória,
na doçura de histórias,
onde diz que a gente continua lado a lado.
Depois que me deres boa noite,
direi, como sempre, obrigada.
Profundamente, obrigada,
que aceitarás como cantado
por alguém que te ama
para sempre, Pai.
SILVANA RUGGERI E MAURICIO DE AZEVEDO