Escarro

Corre, criatura! Pelos meus sentidos

a tatearem a esmo o teu perímetro.

Suspenso no ar, um desastre de ecos tinge

a fibra curva do teus lisos compridos

e meu peito no estopim escapa à laringe.

Lânguidos e enormes olhos no atrito nocivo

do verbo teu, passivo, se posto em símile

do tempo branco que não me veio a fala

nem me veio a sorte, apenas teu rastro esquivo

e o sussurro do papel convergindo numa vala

Ausculto gritos, confissões, cristais de horas

inofensivos a qualquer sistema rítmico.

Oh, a lira que me segue distorcida:

minha ânsia ao teu epitáfio quase chora

fluidos negros de uma crença apetecida.

Que meus mitos ficam presos ao meu clero

pela chaga que me fez atroz estátua

de vibração cadente, nas palmas da mente

que sepulta o que em mim sempre macero

e transmuta-se em pássaro incandescente

E se sei o que é senão apenas a miragem

de forma mais intensa e vista por um músculo,

permitida pela refração dos raios singelos

que luzem, indefinidamente luzem e agem

em cálidos pensamentos que fenecem em flagelos

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 01/05/2014
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T4790049
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