Escarro
Corre, criatura! Pelos meus sentidos
a tatearem a esmo o teu perímetro.
Suspenso no ar, um desastre de ecos tinge
a fibra curva do teus lisos compridos
e meu peito no estopim escapa à laringe.
Lânguidos e enormes olhos no atrito nocivo
do verbo teu, passivo, se posto em símile
do tempo branco que não me veio a fala
nem me veio a sorte, apenas teu rastro esquivo
e o sussurro do papel convergindo numa vala
Ausculto gritos, confissões, cristais de horas
inofensivos a qualquer sistema rítmico.
Oh, a lira que me segue distorcida:
minha ânsia ao teu epitáfio quase chora
fluidos negros de uma crença apetecida.
Que meus mitos ficam presos ao meu clero
pela chaga que me fez atroz estátua
de vibração cadente, nas palmas da mente
que sepulta o que em mim sempre macero
e transmuta-se em pássaro incandescente
E se sei o que é senão apenas a miragem
de forma mais intensa e vista por um músculo,
permitida pela refração dos raios singelos
que luzem, indefinidamente luzem e agem
em cálidos pensamentos que fenecem em flagelos